Pensamentos aleatórios que se transformam.

30 de set. de 2011

Só mais um

 
Tá lá o corpo estendido no chão.
Em vez de rosto uma foto
Estático.
Um corpo já sem alma.
Em vez de reza
Uma praga de alguém
E um silêncio
Servindo de amém...
Uma Maria, um José, um João Ninguém.
Sem lenço e sem documento
No sol de quase dezembro
O cadáver frita no chão a espera do rabecão.
Muitos olhares, curiosos, duvidosos... mas quem se importa.
Ninguém faz nada, nem os governantes nem a massa dominada.
O povo é ignorante e o governo é uma piada”.
É só um homem, uma mulher, quem sabe?
O saco preto, o jornal improvisado, não revela a face
A face da miséria, da hipocrisia, da humilhação; do vagabundo, do cotidiano, da prostituição; da indecência, da covardia, da fome, do indigente que é cidadão.
Um simples fim que se acabou no chão feito um pacote flácido, agonizou no meio do passeio público, morreu na contramão atrapalhando o tráfego”.
E foi só mais um.

13 de set. de 2011

Memórias de um quase ser humano


 
Talvez elas me enganem ou até mesmo não sejam verdadeiras.
Sei que estão lá. Cruéis, viris, forjadas. Sim, algumas, poucas, mas reais.
Memórias de uma existência. Autobiográficas, alucinógenas, impensáveis, imemoráveis. Acho melhor esquecê-las.
Uma vida de quedas, desilusões. Errei, tentei, não consegui.
Agora nos últimos instantes consigo pensar em algo: não sei que. Talvez elas pensem em mim.
Não desculpas, não arrependimentos... não adianta. Os frutos já foram colhidos. Semear a próxima colheita. Isso é tudo.
Mas elas me atormentam, mesmo no instante final, até mesmo as mais recentes. Talvez esteja confuso... serão as drogas, o leito, as pessoas de branco?
Não se preocupe, eu volto, sei que não realizei tudo o que deveria. Em breve, aqui, de novo, como um pássaro, um cão... melhor, uma mosca. 
Pra ver o tão insignificante que é o ser humano.
Tanta fragilidade, ignorância, egoísmo... tanto nada.
E volto, sem nada, nem memórias.
Ao longo da vida, aos que conheci, muito prazer; aqueles com quem vivi, muito obrigado; aos especiais, bem, não esquecerei.
Vou agora e levo comigo somente minhas memórias e a certeza que em breve estarei fora das tuas.

4 de set. de 2011

Lu Z


Um quarto escuro.
Um poço, porão.
Um fio de luz é o que basta para inibir a escuridão.
Ruídos inaudíveis de um tímpano calado.
A falta de brilho entorpece.
Sentidos aguçados.
Perceba a força da luz, da vida.
Arrastando-se pelo chão úmido encontre a saída.
Sua alma está encharcada, sem enxergar... mas a claridade está lá.
Luz, lucidez à mente.
Já está perto, sinta, respire.
Ainda não vê?
Então abra suas pálpebras, pode ser que assim fique mais fácil de evitar a escuridão.