Pensamentos aleatórios que se transformam.

30 de set. de 2011

Só mais um

 
Tá lá o corpo estendido no chão.
Em vez de rosto uma foto
Estático.
Um corpo já sem alma.
Em vez de reza
Uma praga de alguém
E um silêncio
Servindo de amém...
Uma Maria, um José, um João Ninguém.
Sem lenço e sem documento
No sol de quase dezembro
O cadáver frita no chão a espera do rabecão.
Muitos olhares, curiosos, duvidosos... mas quem se importa.
Ninguém faz nada, nem os governantes nem a massa dominada.
O povo é ignorante e o governo é uma piada”.
É só um homem, uma mulher, quem sabe?
O saco preto, o jornal improvisado, não revela a face
A face da miséria, da hipocrisia, da humilhação; do vagabundo, do cotidiano, da prostituição; da indecência, da covardia, da fome, do indigente que é cidadão.
Um simples fim que se acabou no chão feito um pacote flácido, agonizou no meio do passeio público, morreu na contramão atrapalhando o tráfego”.
E foi só mais um.

Um comentário:

  1. Só mais um, sofrido, perdido esquecido.

    Peso da hipocrisia, do descaso.
    No fim, somos todos mais um.
    Sem lenço, sem documento, sem passado, nem futuro.
    Somos a diferença esquecida. Sempre mais um.

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